domingo, 31 de janeiro de 2010

O Velho Passado

Ah! Esse tal de Sr. Destino. Olha sinceramente ele me parece sentir-se o bonitão, o rei do pedaço, o que manda em tudo. Mas, mal sabe ele que sem o Velho Passado ele não seria nada.

O Sr. Destino se acha totalmente independe e totalmente auto-suficiente. Orgulhoso seria um belo adjetivo para ele que acha que não precisa do Velho Passado para ser algo nessa tal de (como é mesmo que chamamos? Ah... lembrei), nessa tal de VIDA!

A Srta. Vida não é nenhum pouco auto-suficiente como o Sr. Destino e nem tão experiente como o Velho Passado. A Srta. Vida é totalmente nova, inexperiente e disposta.

Noooossa, essa Srta. Vida apronta muita coisa, faz tanta coisa sem medo de nada, e vai fazendo... Mas às vezes ela dá uma parada porque vê que está indo rápido demais, então marca um cafézinho com o Velho Passado e eles proseiam a tarde inteira. Falando em tarde, a Srta. Tarde avisa que já é tarde demais para arrepender-se das coisas com o Velho Passado.

Bom, muitos cafés a Srta. Vida toma junto com o Velho Passado. Falando nisso, deixa cá entre nós, mas eles são grandes amigos. Mas o que ninguém sabe é que o Sr. Destino, (o bonitão e auto-suficiente aquele, lembra?) sempre acaba encontrando a Srta. Vida e então a Srta. Vida chama o Sr. Destino e o Velho Passado para um jantinha em casa.

A Srta. Vida conta ao Velho Passado as coisas inacreditáveis que o Sr. Destino tem feito com ela. O Velho Passado sente-se um pouco triste e então busca no fundo das suas entrelinhas as explicações para as coisas que o Sr. Destino acha que fez sozinho. E então, o Velho Passado explica a Srta. Vida o porque das atitudes dos Sr. Destino. E o Sr. Destino fica triste por saber que é dependente de alguém e então resolver vasculhar as entrelinhas do livro do Velho Passado e apresenta a Srta. Vida novas expectativas e novos caminhos.

O Velho Destino põe as mãos no bolso e levante-se para lavar a louça, enquanto a Srta. Vida e o Sr. Destino conversam empolgadamente sobre tudo que ainda estará por vir.

O Velho passado acaba de lavar a louça, passa pela sala de jantar, despede-se dos amigos e nem sequer é notado. Então, baixa a cabeça e fecha a porta da casa da Srta. Vida, deixando a Srta. Vida e o Sr. Destino trancados e vai para sua velha morada.

Um belo dia o Sr. Destino acabar por decepcionar a Srta. Vida que olha para trás e deixa de encontrar o Velho Passado, seu grande companheiro e então desaba a chorar descontroladamente. O Sr. Destino não sabe o que fazer e então o Velho Passado bate a porta da casa da Srta. Vida e entende-lhe a mão, porque apesar de tudo e da distância o Velho Passado jamais será esquecido e jamais nos abandonará enquanto o Sr. Destino pensa em nos surpreender tentando usar o Velho Passado. O Velho Passado está sempre ao nosso lado tentando nos mostrar o quão bom é cada coisa que o Sr. Destino nos oferece, sejam essas demonstrações boas ou ruins. Porque nada, ABSOLUTAMENTE NADA, no mundo é mais gostoso e mais carinhoso do que uma boa e velha Dona Lembrança.


GEDIEL, Camila. O Velho Passado. 2010.