segunda-feira, 31 de maio de 2010

Algodão Doce

Eu poderia listar, um a um, todos aqueles de quem guardo lembranças boas e que, apesar da idade e da perda de memória decorrente da mesma, ainda tenho em alguns vídeos gravados na minha mente.

Saudade dos amigos, dos colegas de trabalho, dos vizinhos, do cachorro.
Saudade daquela pessoa que mexia comigo, que hoje, mesmo não mexendo mais, ainda trás o gosto da lembrança esquecida de como me fazia bem. Ou, como eu mesma me sentia bem em simplesmente me achar bem perto desse alguém.

Nem tudo nessa vida é recíproco, e então, às vezes eu acredito que nós mesmos nos alimentamos esperanças, lembranças e momentos que jamais existiram aos olhos do mundo. E, gostaria de dizer, como é bom sonhar. Acreditar que algo realmente é bom, tão bom quanto a gente quer e sonha.

Mas, também é triste acordar e descobrir que nada daquilo que alimentamos era verdadeiro e então ao invés de chorar, eu guardo com amor os momentos inesquecíveis de um sonho que acordou.

E fico pensando, imaginando o quão bom seria se ele jamais despertasse. Ahh, essa tal vida, esse tal sonho. Quem me dera viver sonhando, mesmo que pisando em nuvens de algodão e ficando com os pés melados. Antes assim, do que sem nuvens de algodão, não é mesmo?

E que tal lavar esses pés, que de tanto andar trouxe algodões de tantas cores e sabores. Que tal lavá-los em uma cachoeira de água cristalina e ter a boa sorte de ver cada pisar indo embora com a correnteza, ver as cores se dissolvendo, os pés ficando limpos e então perceber que, se está zero por cento de novo e, sem mais delongas, entender que por mais que tenhamos limpados nossos pés em águas cristalinas, sobre uma correnteza que percorre a todos os sonhos, sabemos que cada pedaçinho de algodão que se dissolvera, guarda a nossa história em algum cantinho.

Seja na encosta, seja nas raízes de uma árvore, nas asas de um passarinho. Seja nas gotas de chuva que molham olhos que se fecham e se entregaram ao sentir a pureza e a doçura de algo que até hoje não deixou de existir e consegue deixar saudades.

GEDIEL, Camila. Algodão Doce. 2010.